A Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec) atuará para a recuperação dos espaços, edificações, obras de arte e demais bens atingidos nos atos de vandalismo ocorridos no domingo (8/1). A equipe realizou visitas à Praça dos Três Poderes ao longo dos últimos dias, para verificar a situação do patrimônio cultural afetado e, a partir da avaliação do estado dos bens, foram tomadas as primeiras providências e tratadas as ações de cooperação com demais órgãos, como o Congresso, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“A tarefa de recuperar o patrimônio cultural dilapidado nos trágicos eventos de 8 de janeiro exige a união de esforços de todos os agentes públicos do setor”, afirmou o secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues. “Nesse sentido, apresentamos ao Iphan um plano de trabalho com vistas à revitalização da Praça dos Três Poderes e demais equipamentos culturais do local. Vamos reconstruir nosso patrimônio, orgulho de todos os brasileiros.”
Logo na manhã de segunda-feira (9/1), após o ocorrido, a primeira equipe da Secec esteve no local, onde além do Congresso e do edifício do STF, dois equipamentos culturais geridos pela Secretaria, o Museu Histórico de Brasília (Museu da Cidade) e o Espaço Lucio Costa, também foram atingidos. “Felizmente o Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves e o Espaço Oscar Niemeyer não sofreram danos”, informou o titular da Subsecretaria de Patrimônio Cultural (Supac), Aquiles Brayner, em referência aos demais espaços localizados na Praça dos Três Poderes. A própria praça, vale destacar, sofreu afundamentos no piso, provocados pelo peso de veículos dos bombeiros que trafegaram no local, além de que blocos do calçamento português foram arrancados e arremessados contra as estruturas, deixando vários buracos.
“Eles romperam a porta do Museu da Cidade e entraram em uma área de serviço, onde há uma copa, destruindo pertences e eletrodomésticos dos funcionários. Também quebraram uma vitrine expositiva e mobiliários na parte superior do museu. No Espaço Lucio Costa, os vândalos quebraram todas as portas de vidro e a maquete de Brasília foi atingida pelos estilhaços. Já colocamos tapumes no local para proteger os espaços também de chuva e vento”, relata Brayner.
ATUAÇÃO CONJUNTA
O subsecretário também informa que a Secec está atuando com o Iphan, o Congresso e o STF no inventário da destruição para estudar, de modo conjunto, como conduzir o trabalho de restauração possível. Até o momento, já está decidido que a equipe da Secretaria vai trabalhar na restauração de um painel de madeira de Athos Bulcão, em tinta vermelha brilhante, localizado no Senado, que sofreu talhe na sua superfície, além de avarias causadas por pedras, e também de uma tapeçaria de Burle Marx, que foi arrancada da parede e apresenta deformações pelo esforço mecânico de puxá-la. A peça apresenta um rasgo de cerca de 30 centímetros numa das laterais e modificações de coloração em partes que foram urinadas.
A diretora de Preservação da Secec, Aline Ferrari, detalha que a cooperação envolve a elaboração de lista de materiais de restauro para aquisição, a definição de estratégias de recuperação e a higienização das peças, além de testes de pigmentação e coloração nas obras. O paciente trabalho começa com a construção do mapa de danos de cada peça, numa espécie de fotografia para cada tipo de avaria (o que foi descascado, quebrado, o que perdeu brilho, etc.), com legendas que tipificam a linha de ação. O prazo para a conclusão dessa etapa é de uma a duas semanas e só então poderá ser definido prazo estimado para a restauração em si.
Já no Espaço Lucio Costa, os cacos de vidro sobre a maquete representam um problema, porque a detalhada réplica da Capital Federal é antiga e de papel, o que dificulta imensamente sua recuperação e limpeza. “A maquete é muito representativa, mas não é tombada”, explica a servidora, esclarecendo que há, inclusive, a possibilidade de substituição.
No Museu da Cidade, onde as inscrições estão gravadas no mármore, o dano vai além do patrimônio e atinge direitos de acessibilidade e cidadania, prova do desprezo dos vândalos também pelo acesso à cultura. “Lá, eles quebraram todas as legendas em braille”, relata Aline, em referência aos conteúdos que eram todos aplicados sobre suportes de acrílico.
Na galeria de quadros de ex-presidentes do Senado, no Congresso, várias telas foram rasgadas ou perfuradas. Um aspecto curioso observado pela diretora de Preservação é que a escultura “Mulher nua”, criada por Alfredo Ceschiatti (o mesmo que esculpiu os anjos da Catedral de Brasília), resistiu bravamente às tentativas dos agressores. Vídeos dos atos de vandalismo do dia 8/1 mostram que tentaram derrubá-la de seu suporte de mármore. “Ela só precisará ser higienizada”, atesta a servidora, destacando que a peça foi carinhosamente rebatizada de “Resistência”, em uma significativa alusão à luta feminina contra toda sorte de violência no país.
O subsecretário Brayner arremata: “O trabalho que temos pela frente é imenso, mas temos o apoio da maioria da sociedade brasileira, que acompanhou com tristeza e indignação os atos de violência que atingiram o patrimônio público e cultural. Nosso papel é recuperar esses bens tão preciosos, que contam a nossa história”.